Donnerstag, 23. Februar 2012

Ó Pai…!






“Pai, amanhã eu volto.
O médico disse que não podemos ficar aqui. Faça o que eles mandarem, sim, Papi?!
Amanhã eu volto, ok Papi?”
“Faz como quiseres filha!”
“Ok Papi, até amanhã Papi…”





Ai se eu soubesse Papi que era a última vez que o iria ver
último beijo
última vez que tocaria a sua mão
última vez que iria ouvir a sua bela voz profunda e nítida
última vez
Eu não teria ido embora
Eu teria ficado
Lá fora, ou na sala de espera, em pé, sentada, nem que ficasse apenas ali presente, para que não estivesse sozinho
Sozinho
Sozinho
Sozinho
Oh Pai
Que teria dito?
Que teria pensado?
Será que sofreu ainda?
Será que se sentiu só nesse momento?
Será que se sentiu abandonado por mim, por nos?
Oh Pai,
Lembro-me de tudo
Lembro-me das palavras, dos olhares, de quando me tocou a mão, do nosso último lanche á mesa da cozinha
Lembro-me…
Oh Pai,
Pai!!!
“O Pai dizia: Ai filha, estou tão mal!”
Oh Pai,
Será que sabia que ia viajar nessa noite?
“O Pai dizia: Nunca pensava der ser assim”
Será que pressentia o que somente os que estão nessas situações pressentem?
Oh Pai!
Lembro-me de o ver na posição de lado, olhos fechados e apenas um lençol branco por cima a sofrer com dores insuportáveis que só o Pai sentia
Oh Pai!
Será que tinha frio?
Não me lembrei de lhe perguntar Pai!! Não me lembrei!
Quando voltamos da Radiografia, O Auxiliar puxava a maca e eu acompanhava-o á cabeça da cama, e de repente reparo
que o Pai estava a olhar para cima em direcção esquerda… para bem longe Pai…
Oh Pai,
O que é Pai?
O que era Papi?
O que viu Pai?
Depois voltou a fechar os olhos e continuamos até á sala aberta nas Urgências, onde estávamos primeiro
Oh Pai!
Eu não sabia…
Eu tive esperança
Tive a esperança com as palavras do Sr. Doutor, Pai!
Ele disse que se “amanhã” tivesse vaga num quarto da Oncologia no Departamento Fase Terminal, iriam mudá-lo para lá e assim estaria mais confortável
Sim, ganhei esperança…
Nunca pensei Pai!

Eu queria tanto segurar-lhe a mão Pai!
Ficar ao seu lado…
Para o que desse e viesse…




Nunca deixá-lo sozinho
E nunca nessa altura
Nunca
Oh Pai, se eu soubesse!
Mas eu tive esperança Pai.
Pai!
Fui-me embora Pai!
Fui-me embora!
Mais ou menos meia-noite
Cheguei a casa e lembrei-me de que me tinha esquecido de comunicar á Recepção o nosso número de telefone em caso de emergência.
Liguei para informar,
mas,
ficaram de me ligar de volta!
Estranho!
Será que…
Não, não deve ser…
Estranho!
Será?
Não…
Ninguém liga! Eu vou ligar de novo!
A pessoa da Recepção passou a chamada para o médico responsável:
“A senhora tem de ser forte e já tínhamos falado
De que poderia acontecer – o Seu Pai acabou de falecer um pouco após se terem ido embora”
Mas
Hummm
Mas
Não
Mas eu não sabia
Mas eu não queria deixá-lo sozinho
Mas ele sofreu?
“Fique descansada, que ele por fim já não sofreu”
De verdade?
Pensando para mim:
Mas como sabe?
Eles não sabem?
Será que o trataram mesmo bem até ao fim?
Será que foram beber algum café nessa altura?
Será que foram carinhosos com ele nesse momento?
Ou será que se comportaram de “sangue frio” para também eles “humanos” suportarem estas alturas que os rodeiam?
Mas não lhe deram beijo nenhum á partida!
Nem na testa,
Nem na mão,
Nem…
Ou será que lhe deram a mão para ele se sentir acompanhado e acarinhado?
Oh Pai!
Será que o viram morrer?
Quem sabe tinham saído para ir ver outro doente e ele morreu sozinho?
Quem sabe ainda gritou com dores?
Quem sabe teve medo?
Quem sabe chorou?
Disse alguma coisa?
Será que dormiu e pronto?
Será que tinha frio?
Fome?
Sede?
Será que pensou em mim?
Em nós?
Será que chamou por mim?
Será que ainda nos queria ter dito ou pedido algo?
Sabia que ia morrer?
Será que sofreu?
Falou?
Estava sozinho…
Abandonado?!
Oh Pai!
Ainda fui a correr de carro á 01:30h da noite, queria vê-lo, tapá-lo, talvez tivesse frio,
Queria dar-lhe um beijo
Acariciá-lo
Dizer-lhe que o amava tanto
Queria vê-lo
Vê-lo
Somente vê-lo
Não me deixaram vê-lo
Falaram comigo e foram muito compreensíveis com a minha dor
Mas não me o deixaram ver
Como estaria agora?
Será que o trataram com respeito depois de ter morrido?
Será que se riram dele?
Será que fizeram algum comentário inapropriado na presença dele apesar de já morto?
Será que…
Será que…
Será que…
Oh Pai!




Quando o Carro Funerário saiu da morgue
e vi o caixão lá dentro…
O Caixão que eu mesma, minha mãe e meu irmão tínhamos escolhido para ele,
O caixão, o tal, que a senhora da agência funerária delicadamente nos perguntou de qual gostávamos,
e eu fria, triste a sofrer e completamente incomodada com a pergunta lhe respondi:
“Gosto? Não gosto de nenhum!!!”
Claro!
Eu não queria o meu Pai em nenhum caixão!
Vi o carro sair com o caixão lá dentro… era o meu Pai que lá estava dentro…
Oh Pai!!
Pai!
Estou aqui Pai!
Não está sozinho, estou aqui Pai!
Foi a dor que toda a minha vida “pensava” e emaginava estar preparada para a suportar
Mas
Fui surpreendida por uma dor que parecia
Paralisar minha respiração
Uma dor que parecia dar conta de mim
Uma dor que fez eu viver emoções tão fortes de perda que já mais poderia imaginar
Uma dor que parecia rasgar meu peito
Uma dor que me apetecia gritar
Gritar
Gritar
Sim, tive de me controlar muito para não gritar mesmo
Só queria estar sozinha
Não suportava que ninguém me tocasse e ainda menos para tentarem aliviar minha dor
Não queria
Não suportava quando me tentavam abraçar para não sofrer
Não suportava certa gente de quem sempre tanto gostei
Não suportava
Não suportava
Não suportava
Eu gritava em mim
Mas ninguém ouvia meus gritos silenciosos
Sim lágrimas eram as almas que me compreendiam
As únicas que me percebiam
As únicas que sentiam comigo a minha dor
Oh Pai…
Pai…
Estou aqui Pai…
Oh Pai…
Eu não sabia como iria suportar ao abrirem o caixão e velo Oh Pai
Mas
Foi um alivio
Um alivio sim!
Senti Paz por poder estar ao pé de si Pai
Por poder tocá-lo
Por poder dar-lhe beijos na sua testa tão fria Pai
Oh Pai!
Estou aqui Pai!
As suas mãos tão frias Pai!
Mas eu conhecia o toque da sua pele!
Oh Pai
O seu cabelinho tão fininho e cinzento Pai!
Oh Pai!
Acariciei-o tanto Pai!
Mas porquê agora?
Que pessoa e filha horrível que fui!!!!!
Porquê somente agora?
Agora que já era tarde de mais!
Agora que o Pai já nada sentia!
Oh Pai… as olheiras transmitiam um cansaço da dor
mas ao mesmo tempo o descanso do sofrimento
a certeza depois da incerteza
Oh Pai!
Porquê não fiz?
Porquê não disse?
Porquê não o abracei?
Porquê não lhe disse que o amava e o admirava profundamente?
Porquê não lhe dei a mão mais vezes?
Porquê…
Porquê…
Porquê…
Remorsos eternos
Dor eterna de que foi, nunca mais voltará mas sempre presente estará
Oh Pai!
Lembra-se da vez em que me fui deitar ao seu lado…
Falei consigo até o Pai se deixar de dormir
Oh Pai!
Que saudades Pai!
Que remorsos Pai!
Oh Pai!
Que dor profunda Pai!
Pai!
Disse o Padre na Capela, as únicas verdadeiras Palavras de consolo:




Uma Lágrima pela sua Morte
Evapora-se, uma flor sobre a sua campa murcha,
Mas uma Oração pela sua Alma,
Sobe até Deus.

Oh Pai!
 

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